quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A vida tem Tons



Se tem tom, tem canção


Se tem canção, tem o tom


Se tem o Tom, tem Jobim


Se tem Jobim, tem Vinicius


Se tem Vinicius, tem a prosa


Se tem a prosa, tem os versos


Se tem os versos, tem a bossa


Se tem a bossa, tem o Chico


Se tem o Chico, tem Buarque


E se tem tudo isto, tem alegria


E se tem alegria, tem a vida


Porque a vida sem alegria


É como o Chico sem a bossa


É como a bossa sem os versos


É como os versos sem a prosa


É como a prosa sem Vinicius


É como Vinicius sem Jobim


É como Jobim sem canção


É como canção sem um tom


Porque quem dá o tom da canção da vida, é a alegria


*Pergentino Júnior


Publicado no Recanto das Letras em 31/05/2008

Ai que saudade d'ocê - ALCEU VALENÇA

domingo, 25 de janeiro de 2009

JOHN LENNON


A mulher é o negro do mundo.

A mulher é a escrava dos escravos.

Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama.

Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem.

25 DE JANEIRO - DIA DO CARTEIRO

Muito tem sido falado do carteiro como profissional, mensageiro de boas e más notícias. Entretanto, aquele que fielmente cumpre a sua missão, tornando-se o elo principal entre as pessoas, independentemente da distância, é, acima de tudo, um admirável ser humano.
Um brasileiro que, como todos os outros, tem alma e coração.
Alma para entender o espírito de seu semelhante e disponibilizar o ombro amigo no primeiro momento após o recebimento de uma informação desagradável.
Coração para perceber o brilho no olhar de quem recebe aquela tão esperada notícia de um ente querido.
Os Correios têm no carteiro o seu mais representativo símbolo de identidade junto à sociedade em geral.
É a imagem da Empresa que, juntamente com milhões de correspondências, chega diariamente aos diversos lares brasileiros.
O carteiro, essa figura simpática que, por estar todos os dias passando por nossas casas, é facilmente adotado, involuntariamente, pela família.
Quem de nós não já ouviu a expressão carinhosa "o meu carteiro" ou "o carteiro lá de casa"? Essa é a forma como tratamos o nosso carteiro.
O nosso amigo de todos os dias.
Aquele que, faça chuva ou faça sol, sempre passará pela nossa porta deixando uma mensagem de alguém que lembrou de nós.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Eduardo Galeano - " Espelhos "


"Os espelhos estão cheios de gente

Os invisíveis nos vêem

Os esquecidos nos lembram

Quando nos vemos, os vemos

Quando nos vamos, eles se vão?"


"Este livro foi escrito para que não partam

Nestas páginas unem-se o passado e o presente

Renascem os mortos, os anônimos têm nome

os homens que ergueram os palácios e os templos de seus amos

as mulheres, ignoradas por aqueles que ignoram o que temem

o sul e o oriente do mundo, desprezados por aqueles que desprezam o que ignoram

os muitos mundos que o mundo contém e esconde

os pensadores e os que sentem

os curiosos, condenados por perguntar

e os rebeldes e os perdedores e os lindos loucos que foram e são o sal da terra."


*Em 'Espelhos - Eduardo Galeano analisa a história da humanidade sob a ótica dos desvalidos, dos esquecidos da história oficial.

Em tom de crônica poética, o livro traz um panorama de acontecimentos e de transformações do mundo, misturando o passado e o presente.


Recomendo!


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O teu riso


Tira-me o pão, se quiseres,


tira-me o ar, mas não


me tires o teu riso.


Não me tires a rosa,


a lança que desfolhas,


a água que de súbito


brota da tua alegria,


a repentina onda


de prata que em ti nasce.


A minha luta é dura e regresso


com os olhos cansados


às vezes por ver


que a terra não muda,


mas ao entrar teu riso


sobe ao céu a procurar-me


e abre-me todas


as portas da vida.


Meu amor, nos momentos


mais escuros soltao teu riso


e se de súbito


vires que o meu sangue mancha


as pedras da rua , ri , porque o teu riso


será para as minhas mãos


como uma espada fresca.


À beira do mar, no outono,


teu riso deve erguer


sua cascata de espuma,


e na primavera , amor,


quero teu riso como


a flor que esperava,


a flor azul, a rosa


da minha pátria sonora.


Ri-te da noite,do dia, da lua,


ri-te das ruas


tortas da ilha,


ri-te deste grosseiro


rapaz que te ama,


mas quando abro


os olhos e os fecho,


quando meus passos vão,


quando voltam meus passos,


nega-me o pão, o ar,a luz,


a primavera,mas nunca o teu riso,


porque então morreria.


*Pablo Neruda

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Vida de gado - Zé Ramalho

Vida de Gado - Zé Ramalho

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível,
Não voam, nem se pode flutuar
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Na ciranda da vida...


"Não deixe portas entreabertas

Escancare-as...ou bata-as de vez

Pelos vãos, brechas e fendas

Passam apenas semiventos

Meias verdades

E muita insensatez".


*Cecília Meireles

domingo, 4 de janeiro de 2009

Fernando de Noronha - Pernambuco


Aqui nesta praia onde


Não há nenhum vestígio de impureza


Aqui onde há somente


Ondas tombando ininterruptamente


Puro espaço e lúcida unidade


Aqui o tempo apaixonadamente


Encontra a própria liberdade.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Vinicius de Moraes

O Haver


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura

Essa intimidade perfeita com o silêncio

Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo

- Perdoai! eles não têm culpa de ter nascido...


Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo

Essa mão que tateia antes de ter, esse medo

De ferir tocando, essa forte mão de homem

Cheia de mansidão para com tudo que existe.


Resta essa imobilidade, essa economia de gestos

Essa inércia cada vez maior diante do Infinito

Essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível

Essa irredutível recusa à poesia não vivida.


Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento

Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade

Do tempo, essa lenta decomposição poética

Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.


Resta esse coração queimando como um círio

Numa catedral em ruínas, essa tristeza Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria

Ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória.


Resta essa vontade de chorar diante da beleza

Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido

Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa

Piedade de sua inútil poesia e de sua força inútil.


Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado

De pequenos absurdos, essa tola capacidade

De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil

E essa coragem de comprometer-se sem necessidade.


Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza

De quem sabe que tudo já foi como será e virá a ser

E ao mesmo tempo esse desejo de servir, essa

Contemporaneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje.


Resta essa faculdade incoercível de sonhar

De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade

De aceitá-la tal como é, e essa visão

Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante.


E desnecessária presciência, e essa memória anterior

De mundos inexistentes, e esse heroísmo

Estático, e essa pequenina luz indecifrável

A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.


Resta essa obstinação em não fugir do labirinto

Na busca desesperada de uma porta quem sabe inexistente

E essa coragem indizível diante do grande medo

E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva.


Resta esse desejo de sentir-se igual a todos

De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história

Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade

De não querer ser príncipe senão do seu reino.


Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento

Esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável

Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços

E esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.


Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio

Pelo momento a vir, quando, emocionada

Ela virá me abrir a porta como uma velha amante

Sem saber que é a minha mais nova namorada