terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Luar, espere um pouco, que é pra o meu samba poder chegar


Ferreira Gullar

A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais.
Ela se desenrola também nos quintais entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas.
Disso eu quis fazer a minha poesia.
Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta as pessoas e coisas que não têm voz.

Vinícius de Morais

Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza
Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher
Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor
E para ser só perdão.

Florbella Espanca

Toda esta noite o rouxinol chorou
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!…