terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O teu riso


Tira-me o pão, se quiseres,


tira-me o ar, mas não


me tires o teu riso.


Não me tires a rosa,


a lança que desfolhas,


a água que de súbito


brota da tua alegria,


a repentina onda


de prata que em ti nasce.


A minha luta é dura e regresso


com os olhos cansados


às vezes por ver


que a terra não muda,


mas ao entrar teu riso


sobe ao céu a procurar-me


e abre-me todas


as portas da vida.


Meu amor, nos momentos


mais escuros soltao teu riso


e se de súbito


vires que o meu sangue mancha


as pedras da rua , ri , porque o teu riso


será para as minhas mãos


como uma espada fresca.


À beira do mar, no outono,


teu riso deve erguer


sua cascata de espuma,


e na primavera , amor,


quero teu riso como


a flor que esperava,


a flor azul, a rosa


da minha pátria sonora.


Ri-te da noite,do dia, da lua,


ri-te das ruas


tortas da ilha,


ri-te deste grosseiro


rapaz que te ama,


mas quando abro


os olhos e os fecho,


quando meus passos vão,


quando voltam meus passos,


nega-me o pão, o ar,a luz,


a primavera,mas nunca o teu riso,


porque então morreria.


*Pablo Neruda