sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Cancioneiro - Fernando Pessoa


Boiam leves, desatentos

Meus pensamentos de mágoa

Como no sono dos ventos

As algas, cabelos lentos

Do corpo morto das águas.


Boiam como folhas mortas

A tona de águas paradas

São coisas vestindo nadas

Pós remoinhando nas portas

Das casas abandonadas.


Sono de ser, sem remédio

Vestigio do que não foi

Leve mágoa, breve tédio,

Não sei se para, se flui

Não sei se existe ou se dói.

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