domingo, 30 de novembro de 2008

Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida
Parece-me que foi noutras esferas
Parece-me que foi numa outra vida.

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim

E as lágrimas que choro, branca e calma
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

*Florbela Espanca

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