Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida
Parece-me que foi noutras esferas
Parece-me que foi numa outra vida.
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim
E as lágrimas que choro, branca e calma
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
*Florbela Espanca
domingo, 30 de novembro de 2008
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